Implicância é foda.
A capa parecia de bandinha indie dançante padrão, o nome do disco soava como alguma coisa tocada em Ibiza. E aí todo mundo babando em cima. Pronto, já ganhava minha inimizade. Foi assim que fiquei meses sem chegar perto de Sunbather, segundo disco da carreira do Deafheaven. Foi lá por Setembro que descobri, por acidente, que era uma banda de black metal – mas que misturava o peso do gênero com guitarras e melodias bem comuns no shoegaze e post-rock. E enfim ouvi o disco. Era bacana, mas aquela implicância persistiu. Afinal, olha a carinha dos caras. Alguém falou que era Hipster Metal, e meio que aceitei.
Foi só agora, mais de 9 meses depois do lançamento, que botei sem pensar muito o danado pra tocar no mp3 player em uma tarde que estava rumando do calor ensolarado para chuva demolidora. E em menos de 3 minutos eu já achava Dream House uma das melhores faixas de abertura da história recente da música mundial. Porradaria insana da bateria e vocal agressivo fazem frente a linha de guitarra mais bonita e emocionante possível. Em todos esses anos nesta industria vital esta é a primeira vez que uma banda de black metal me causa uma sensação tão bonita, de elevação de espírito mesmo. Quer dizer, pra um monte de gente o Deafheaven não é nem metal, mas meio que se foda isso.
O disco todo é excelente. Passagens dedilhadas a la Explosions in the Sky se alternam com momentos violentões. Não tem um trecho chato, a experiência de ouvir Sunbather de cabo a rabo me faz pensar nos melhores discos do Mogwai, And You Will Know Us By The Trail of Dead, Neurosis ou no derradeiro disco do Altar of Plagues, também do ano passado. São na real 4 faixas principais (cada uma durando de 9 a 15 minutos) alternadas com faixas de interlúdio, com climas e samples para introduzir a próxima faixa ou finalizar a anterior. A música título, Sunbather, mais cadenciada que Dream House, é outra maravilha, quase um encontro do My Bloody Valantine, Sonic Youth e Emperor (ou não, mas meio sim). Vertigo é a que mais segue tonalidades de um metal mais clássico, digamos. Mesmo assim é uma construção bem épica, com a dinâmica post-rock porrada-calma-porrada. A faixa final é a absurda The Pecan Tree, uma amostra perfeita do som proposto pelo Deafheaven – opressão com guitarras harmoniosas que se deixam ficar calmas e construir grandes paisagens até a catarse.
Muita gente discutiu a aceitação desse novo caminho para o black metal, mesmo sendo o black metal um dos sub-gênero mais abertos para experimentações. Mas Sunbather é também uma bela novidade pro post-metal, que sempre carregava mais no sludge e parecia não arriscar com elementos tão naturais quanto o vocal áspero e o pedal duplo acelerado. Pra quem estiver disposto a não implicar, é um grande disco.